sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Fim do Cd do carnaval do Rio?

Com todas as disputas do Grupo Especial concluídas, todos querem áudio. A curiosidade para saber como vai ficar o samba na voz do intérprete da escola. Será que vão alterar a letra do samba? Como serão os alusivos do CD? Em 2009, haverá homenagem para Jamelão? A chave para todas essas questões está em uma modesta galeria na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. É que, dentro dela, há um estúdio de proporções nada modestas oferecendo sua infra-estrutura em tempo integral para a gravação do CD oficial. Parece, na verdade, uma convenção de sambistas. A agenda de gravações favorece. Na parede da Gravadora Escola de Samba LTDA, um enorme cronograma - que abrange desde o calendário das finais às datas reservadas para cada escola gravar os pedaços de sua obra. Pedaços de obra porque a produção é fragmentada. Primeiro gravam as bases - com marcação e harmonia - e o intérprete faz uma gravação chamada de "guia". O trabalho segue em cima disso. Em um outro dia gravam os tamborins, os repiques e por aí vai. Até que, após todos os instrumentos estarem prontos, o intérprete volta e grava, agora sim, a sua voz final em cima do samba. E, então, explica-se a sensação de estar em uma convenção de sambistas. Os trabalhos começam às nove da manhã e não têm hora para acabar. Tanto que Zaccarias Siqueira de Oliveira tenta explicar, dizendo que estúdio é que nem hospital: a cirurgia tem hora marcada para começar, mas nenhum médico sabe a hora que vai voltar para casa. Assim, as escolas se revezam, mas os cirurgiões responsáveis ficam lá o dia inteiro. Na mesa de som: Mario Jorge Bruno, Laíla e o próprio Zaccarias. Esses não têm hora para chegar em casa. Resta esfregar os olhos e encostar um pouco no sofá, às vezes. Mangueira entra no estúdio com mais de duas horas de atraso Quando os músicos da Imperatriz começam a deixar o local da convenção, o pessoal da Mangueira começa a invadir o estúdio. Paulinho Mocidade se despede e Luizito já procura o microfone. Mas ainda falta. Agora os ritmistas que vão participar da gravação ficam reunidos com Alceu Maia, responsável pelos arranjos do CD juntamente com Jorge Cardoso. Ali, em coisa de dez minutos, Alceu prepara as partituras com as melodias e compassos que irão guiar a gravação. Gusttavo Clarão, Lequinho e Fionda também acompanham o processo. Começa a gravação da base de Mangueira. Luizito coloca a sua "voz-guia". Ficou bonito. Homenagem a Jamelão Mesmo com todas as críticas, parece nítido que os sambistas não queiram o fim do CD. Como ficaria a tradição de ir às lojas, ansiosamente, dia após dia, para verificar se já está lá o tão esperado álbum estampado com a foto da campeã do último carnaval? Além disso, mais uma vez reconhecendo os esforços da equipe de produção, há sempre as tentativas de buscar um atrativo, uma surpresa. Para 2009, o destino foi o responsável pela grande ausência do CD e levantou a questão: como será a homenagem ao mestre Jamelão? Como a gravação final só acontecerá no sábado, algo pode mudar. No entanto, a intenção dos produtores e dos compositores do samba da Mangueira é que aqueles que comprarem o CD possam ouvir a voz de Jamelão, recuperada de anos anteriores. "Minha Mangueira". Na voz do mestre, que também já é homenageado pelo refrão do samba da Mangueira, sendo ele, "a voz do samba". Essa, provavelmente, será a reverência feita ao mestre Jamelão no CD 2009. Olha esse samba é muito bonito, mas com essa correria não dá. Vamos diminuir essa velocidade aí". Essas foram as palavras do diretor de carnaval da Beija-Flor, também responsável pela produção do CD. Então, todos se olham, mas respeitam. Afinal, se a Beija-Flor, nos últimos anos, tem dado aula de como ganhar um carnaval, cantemos como Laíla indica. Quando termina a gravação guia da Mangueira terminam, também, os trabalhos de terça-feira. Para quarta, quinta e sexta um extenso calendário para a gravação dos demais instrumentos. No sábado os intérpretes. Junto disso, os responsáveis pela gravação começam a inserir alguns floreios. A necessidade de mudar alguma coisa na harmonia ou de executar algum instrumento de percussão ou de corda. Zaccarias adianta, por exemplo, que devem ser usados quatro violinos no áudio final da Imperatriz. No domingo acontece a mixagem. Segunda-feira o material já vai para a fábrica. Ao mesmo tempo em que todos ficam ansiosos por ouvir os áudios oficiais, os sambistas costumam criticar a forma como os sambas são gravados. Fala-se da desanimação e da frieza das faixas. Preocupação com a qualidade. O cronograma extenso e o trabalho intenso. No entanto, Zaccarias admite as diferenças entre uma gravação em estúdio e outra ao vivo, em um teatro como o Circo Voador, por exemplo. O problema principal é o custo. Para manter a qualidade de som conseguida no estúdio em uma gravação num teatro, seria necessário uma unidade móvel de grande custo, além de sorte. Ele fala de veículos que passam na rua e derrubam o que está sendo gravado. A culpa, segundo ele, é da pirataria. O CD oficial é produzido para chegar às lojas na segunda quinzena de novembro, exatamente na primeira segunda-feira, após o dia 15, com preço sugerido na média de R$ 20. Uma semana antes, porém, o comércio informal já dispõe do trabalho e vende por menos da metade do preço oficial. - Fica difícil competir com a pirataria e acabamos tendo um prejuízo considerável nesse processo. Hoje, continuamos gravando o CD por amor. Amanhã, precisaremos repensar a viabilidade de uma produção como essa - confessa Zaccarias. Bom meus amigos, eu faço uma pergunta a vocês, será que isso vai acontecer nas outras cidade por esse Brasil? Sinceramente eu fico preocupado, pois se os carnavalescos do Rio de Janeiro estão preocupados o que deixa para nos de cidades com o carnaval de proporção menor? Acredito que vale a reflexão pois a pirataria está tomando um rumo enorme de proporções nada agradáveis, e se nós não nos unir realmente teremos que pensar. Deixo esse espaço para reflexão dos carnavalescos, abraços.


Fonte: SRDZ Carnavalesco - Conclusões Edinei Martins

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